domenica 2 aprile 2017

Tias demais

Bennibag de Bahia...
Minha mãe, desde que eu era pequena, exilava –me aqui e lá, nas casas de tias verdadeiras e de mentirinha. Dizia-me que era para o meu bem, Adorava repetir que, assim, aprenderia a lidar com qualquer pessoa.  Quem saía ganhando com isso, eu acho, era só ela que sem piedade, mas com elegância, conseguia se livrar de mim.  Se por acaso eu reclamava, tinha  sempre a resposta pronta. Sentia demais  minha ausência, Nossa, como a sentia! Mas fazer o que?  Como podia deixar que eu perdesse o trem da sorte minha? Dessa forma, com quatro anos estava esquiando nas montanhas de Madonna de Campiglio hospedada na casa de uma tia que nunca mais a encontrei. Voltei com o sotaque de Milão :”consegui passar debaixo das raquetinhas, né!”, abrindo bem as vogais.  A partir dos oitos anos, todos na Van Ford Transit  verde-ervilha  da tia B. subindo pela península. Crescendo acabei conhecendo muitas outras tias, que eram minhas parentes da mesma forma que o era Napoleão Bonaparte. Em casa da tia L. tinha que comer a língua em salsa agro-doce. Cada garfada uma lágrima. Imaginava o boi e o  burrinho do presépio com as longas línguas cor de rosa dependuradas para fora da boca. Um golpe firme e .. .eca, que nojo!  Já adolescente conheci tias até em Genebra, onde desembarquei após uma noite no vagão leito do trem rumo a “Maison d’Enfant” na Alta Sabóia.  A “tia”logo me levou para ver o Jet d’eau, que me pareceu uma bobagem (paia, como diria meu filho hoje) e me acondicionou no ônibus para Mégève. Quando cheguei, chovia tanto que as montanhas pareciam chorar. Desci com minha mala enorme sem dominar sequer uma palavra de francês. Com a mala que mais parecia uma cauda de canguru, cheguei aos trancos e barrancos, toda  molhada, até a porta do colégio. Parecia que tivesse alcançado o cume do Everest. Um rio de Suzanes, e também de Rosettes (mais duas tias franceses. Oba! duas com um golpe só.) me receberam olhando-me de baixo para cima e disseram, juntas, em uma só voz, que sem sombra de dúvida tinha errado de endereço. Somente graças a infindáveis telefonemas e inúmeras tentativas, apôs muitas horas, consegui invadir a fortaleza. No dia seguinte entendi o motivo de tanta desconfiança. Acabavam de chegar duas novas alunas. Sentadas em automóveis trajados a rigor e tão compridos que pareciam aviões, motoristas de luvas abriam-lhes suavemente a porta...
 

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