Os
gêmeos eram a luz dos olhos direito e esquerdo de minha mãe, que os abrigava
debaixo de suas saias. Quando meu pai, com ciúmes daquele amor exclusivo, ao
grito de batalha “Pergunto-me e digo” corria atrás deles, roxo de raiva e com
as mãos ardendo por causa de mais uma molecagem, minha mãe colocava a armadura
e combatia bravamente em defesa dos seus protegidos. O corpo a corpo, sempre
acabava com a rendição do meu pai, e para os molequinhos tudo se resolvia num
sermão. Mas, já que do latinorum os dois não estavam nem aí, tudo
começava de novo com infinitas corridas a seis pernas e broncas solenes e
inúteis...na mesma medida.
Fiquei
surpresa, muitos anos depois, ao descobrir que os dois, nenês, foram
abandonados por minha mãe, ainda envolvidos nos cueiros, por bem três, diga-se
três, meses. De fato, após o parto, ela foi se recuperar da anemia lá nas suas
montanhas do Friúli, no Refúgio (que na verdade era um verdadeiro Hotel cinco
estrelas) Lussari, rodeado por coníferas e morros formosos, em doce companhia
do meu pai. Eles, recém-nascidos, com as chagas de decúbito nas costas – uma vez que: no colo? Nunca, você quer mimá-los? –
ficaram choramingando na
clínica onde trabalhava aquele tio-avô, que não tinha filhos e era pintor leigo
de monstros, papagaios, quimeras, sereias. Todas as pessoais visões do mistério
da vida de um obstetra...
Foi
ele, o tio-avô Frederico, quem os fez nascer. Os dois primogênitos da casa
Pontes, sem saber do fato que fossem gêmeos. Saído o primeiro, disse, com forte
sotaque do Friúli, surpreso: “Gue sé dó” pronunciada como se fosse só uma
palavra, que poderíamos traduzir
em: “São dois!”. E, rapidinho rapidinho, desentoca o segundo. Talvez, também
por isso, Gianluca carregou nas costas dois nomes no lugar de um só, feito raro
na Itália.