domenica 4 settembre 2011

Os Gêmeos


Os gêmeos eram a luz dos olhos direito e esquerdo de minha mãe, que os abrigava debaixo de suas saias. Quando meu pai, com ciúmes daquele amor exclusivo, ao grito de batalha “Pergunto-me e digo” corria atrás deles, roxo de raiva e com as mãos ardendo por causa de mais uma molecagem, minha mãe colocava a armadura e combatia bravamente em defesa dos seus protegidos. O corpo a corpo, sempre acabava com a rendição do meu pai, e para os molequinhos tudo se resolvia num sermão. Mas, já que do latinorum os dois não estavam nem aí, tudo começava de novo com infinitas corridas a seis pernas e broncas solenes e inúteis...na mesma medida.
Fiquei surpresa, muitos anos depois, ao descobrir que os dois, nenês, foram abandonados por minha mãe, ainda envolvidos nos cueiros, por bem três, diga-se três, meses. De fato, após o parto, ela foi se recuperar da anemia lá nas suas montanhas do Friúli, no Refúgio (que na verdade era um verdadeiro Hotel cinco estrelas) Lussari, rodeado por coníferas e morros formosos, em doce companhia do meu pai. Eles, recém-nascidos, com as chagas de decúbito nas costas –  uma vez que: no colo?  Nunca, você quer mimá-los?  –  ficaram  choramingando na clínica onde trabalhava aquele tio-avô, que não tinha filhos e era pintor leigo de monstros, papagaios, quimeras, sereias. Todas as pessoais visões do mistério da vida de um obstetra...
Foi ele, o tio-avô Frederico, quem os fez nascer. Os dois primogênitos da casa Pontes, sem saber do fato que fossem gêmeos. Saído o primeiro, disse, com forte sotaque do Friúli, surpreso: “Gue sé dó” pronunciada como se fosse só uma palavra,  que poderíamos traduzir em: “São dois!”. E, rapidinho rapidinho, desentoca o segundo. Talvez, também por isso, Gianluca carregou nas costas dois nomes no lugar de um só, feito raro na Itália.