giovedì 16 febbraio 2012

Uma menina fora de moda




De todas minhas leituras infantis, apenas de dois livros tenho lembrança, ou melhor, três. Eu, igualzinha às protagonistas. Eu, que no fundo, no fundo era já uma mulher, toda aí, alma e corpo, sob o semblante de menina que eu era. Eu, pequena por fora como uma conchinha do mar, por dentro era já adulta. O futuro estava já escrito nos três livros. Eu fração das minhas heroínas de papel, um terço de cada uma. Apresento-lhe Madeleine! De uniforme, que nem eu, enfileirada por dois, que nem eu, todavia diferente, pois atrevida: “She was not afraid of mice, she loved winter, snow and ice, to the tiger at the zoo Madeline said pooh hoo”1. Eu decorava os versos de cada enorme página ilustrada, que, naquele tempo, a versão italiana não existia mesmo. Imagine os filmes … Cada página um pedacinho dos meus pensamentos. Era um pouco, aliás, diria muito, Madeleine. E era um pouco, aliás, diria muito, Marigold, a menina do coração alegre à qual a Montgomery dedica o livro homônimo. Eu como ela, presa ao passado feito uma ostra aos recifes, agarrada às tradições da mesma forma que um náufrago ao salva-vida, dando língua ao meu futuro, ao mar revolto e a maré que me circunda. Na cabeça sempre sonhos e esperanças, que, na vida real, entram em curto circuito e explodem, pum, como balões assoprados por uma baleia. Para ser sincera, não me lembro do nome da minha terceira heroína que vivia em mim. Lembro apenas que era a rainha do romance “Uma moça fora de moda” da Alcott – Ela mesmo, a autora da bem mais famosa trilogia das pequenas mulheres. Apesar de não lembrar esse benedito nome, está fincada na memória a lembrança da capa do livro como se estivesse olhando para ele neste exato momento. Debaixo do título verde, uma cinderela ruiva, com os olhos no chão. Experimenta um elegantíssimo vestido, com um grande laço, verde como o título, encostado-o sobre os ombros. Seu olhar é humilde, e soberbo ao mesmo tempo. Adorava aquele vestido, mas vesti-lo era supérfluo e, ademas, minha pequena heroína, não precisava dele. Um dia, tornar-me-ia assim. Éster, uma moça fora de moda.

1Bom, já que versão português não tinha, eu a traduzi assim: “Ao ver um rato não fugia, amava inverno e água fria e se no zoológico o leão visitava, com vara curta o cutucava”.