De vez
em... sempre, mia mãe me apresentava as filhas de suas amigas como fossem
as jóias do tesouro de Ali Babá. De forma geral, nos combinávamos tão bem
quanto o azeite, com a água. Lembro-me de tristes tardes de silêncios
interrompidos por monossílabas. Sorrisos de conveniência e olhares de
desconfiança. Uma tarde de primavera avançada, quando as aulas estavam
quase por terminar e a pradaria (a parte mais selvagem da nossa casa,
lembra dela?) se enchia de margaridas brancas, chegou, junto com sua mãe –
professora de latim e grego antigo – uma tal de Francisca. Tinha olhos bem pretos,
que pareciam jabuticabas, eram olhos atentos, concentrados, pensativos.
Exatamente o contrário dos meus, que pareciam sempre dançar o can can.
Ela era o Oeste e eu, o Leste. Ela, pensativa e calada como o entardecer, eu
despreocupada e leve como as margaridas ao meu redor. Passamos a maior parte do
tempo caladas. Quando chegou a hora de se despedir, chegou sua mãe e como se
estivesse na sala de aula, disse “Agora Francisca tem mesmo que ir para casa,
pois Cícero nos espera...”. E eu, abestada: “Quem é Cícero? Seu
cachorrinho de estimação?”Isso mesmo, tenho que admitir, respondi assim. Estava
já no segundo grau, estudando latim há mais de 5 anos.
Nessun commento:
Posta un commento