giovedì 19 maggio 2011

O professor Lodovico e sua mulher Regina (que em italiano quer dizer rainha)


Na casa dos Pontes, por tradição, os chefes de família dividiam-se em duas categorias: os professores e os marajás. Aqueles, os professores, fiéis às mulheres deles, de coluna reta, guardiães da papelada de todas as encrencas familiares; estes, mulherengos, flexíveis, inconstantes e, geralmente, eles mesmos cerne de todas as encrencas. O advogado, meu pai, que se chamava Lodovico, era da primeira categoria. Já, seu irmão, jornalista, pertencia à segunda. Ambos, o professor e o marajá, casaram-se e ambos tiveram cinco filhos. Cada um deles teve um par de gêmeos. Os “grandes” (meus irmãos), e os “pequenos”, cujo apelido, sem muita graça, era “os gemeozinhos”. Minha mãe (a mulher do professor) era o oposto de uma professora. Quando moça, enquanto suas coleguinhas usavam os cabelos bem penteados, ela os cortava bem curtinhos feito um garoto; enquanto todas se casavam de branco com longos véus até o chão, ela se casou com um vestido cuja bainha chegava apenas abaixo do joelho e, ainda por cima, com a cabeça desadorna. A mulher do jornalista (o marajá), consolava-se das falhas dele gravando as vozes dos mortos. Eu, na verdade, escutava apenas o silêncio interrompido pelo chiado da fita do gravador de cor cinza que nem um rato. Ela, com olhar de reza: “Escute! Você ouviu?”. Minha mãe, fria feito uma pedra de gelo, dava uma tossidinha e: “Vamos, ´bora... temos que ir”. Muitos anos depois, estava assistindo, para agradar outros amores, um filme de James Bond, do qual meu pai gostava que nem garoto gosta de chocolate. Fiquei pensando: “Como seria legal, se ele estivesse aqui com a gente”. Naquele exato momento escutei um barulho ensurdecedor oriundo da cozinha, como se o vizinho estivesse pendurando quadros em plena noite. Eu o interpretei assim: “Estou aqui, o que você acha?!” As vozes dos mortos.

Nessun commento:

Posta un commento