Quando
minha mãe, que era já mãe de quatro filhos, soube que eu estava chegando,
desmoronou feito um trapo frouxo e: “Mais um! Não acredito!” disse suspirando.
Realmente, uma carinhosa acolhida. Até quase as águas quebrarem – assim me contou
– ficou mudando de lugar móveis, talvez, sem saber, na esperança de perder-me.
Mas, mais provavelmente, foi devido à mudança. Quiçá... Talvez se fechar os
olhos consiga vê-la: ombro exprimido empurrando a face lateral da cômoda escura
que domina a sala de estar, rosto contraído, uma mão protegendo a bochecha.
Brilha, imaginado-a, uma barriga redondinha e alegre, que me dava aconchego, a
despeito de toda a bagunça em volta. Nasci ligeira, ligeira: “feínha” de dar
dó, olhos colados um ao outro, poucos cabelos pretos, sempre com o nariz
escorrendo. Quando me tornei uma menina, floresci. Mas sempre adoentadinha
fiquei. O nariz vivia constipado e no ouvido um chumacinho de algodão que, de
acordo com os grandes conhecimentos médicos de minha mãe, ia me proteger da
otite. Estava me dando como presente a ilusão de um mundo tom pastel. Dava umas
tossidas de vez em quando, mas sempre afundando a cara no travesseiro, jamais
queria perder a escola e ficar em casa. Com sete anos adoeci da misteriosíssima
“quarta doença”, que fez com que tive que ficar três – diga-se três – meses em
casa. Era primavera, quando finalmente saí pela primeira vez. Para proteger a
cabeça, minha mãe me emprestou um lenço francês de pura seda, um dos muitos que
tinha, cheio de cavalos, selas, chicotes, estribos. “O que você colocou na
cabeça? Um estábulo?” Foi a
pergunta que me endereçou, como se fosse um balde de água gelada, um dos meus
irmãos gêmeos...
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